A Meta, que já foi avaliada em US$1 trilhão, perdeu 71% em valor de mercado em 2022 e demitiu 11 mil colaboradores no início do mês de novembro.
O que será que deu errado no metaverso de Zuckerberg?
Confira!
Meta demite 11 mil funcionários
A demissão em massa de funcionários da Meta no dia 09 de novembro virou manchete em portais de notícias do mundo todo, com nota de Zuckerberg admitindo a responsabilidade pela medida.
Além disso, os processos de contratação na Meta foram congelados até o primeiro trimestre de 2023.
Segundo ele, as 11 mil demissões – que representam cerca de 13% do quadro total de colaboradores da Meta – foram resultado do seu “excesso de otimismo” e fazem parte de uma reestruturação que ajudará a enxugar a companhia.
O curioso é que, a empresa havia contratado mais de 27 mil novos colaboradores nos últimos dois anos e planejava recrutar mais 10 mil, com a finalidade de dar vida à nova aposta de Zuckerberg:
O metaverso.
Mas, parece que as coisas não saíram como planejado.
Apesar de todo o otimismo de seu fundador, só em 2022, a empresa perdeu mais de 71% em valor de mercado, o que levou a perda de bilhões e bilhões de dólares.
Será que isso são indícios de problemas no Metaverso de Mar?
Afinal, o que levou a Meta a viver, nas palavras de Zuckerberg, um dos momentos mais difíceis na história da empresa?
TIK TOK: A dor de cabeça de Zuckerberg
Bem, a verdade é que essa confusão na Meta não surgiu de um único fato isolado.
Para entender isso, precisamos voltar no tempo e analisar 3 fatores principais que preparam esse cenário de recessão de uma empresa que crescia ano após ano desde a sua fundação em 2004.
Dentro de uma linha cronológica, desde que o Facebook venceu o Orkut em volume de usuários em 2011, a forma de Zuckerberg lidar com concorrentes que ameaçavam o seu reinado sempre foi comprar ou copiar.
Quando o instagram caiu nas graças do povo, tio Zuck fez o quê? Comprou a marca.
O mesmo aconteceu com o WhatsApp.
Quando o Snapchat começou a ganhar espaço no mercado com a possibilidade de compartilhar fotos e vídeos por tempo limitado, novamente houve a tentativa fracassada de compra.
Para “se vingar”, Zuckerberg retaliou incluindo uma função semelhante no Facebook, Instagram e WhatsApp.
E assim nasceram os stories.
O reinado da Meta parecia intocável até que uma nova ameaça à supremacia dos seus produtos surgiu: o TikTok.
Agora, sabe o que é mais curioso?
Em 2016, tio Zuck, que não é bobo nem nada, também tentou comprar a plataforma que serviu de alicerce para o Tik Tok como é hoje: o Musical.ly – um aplicativo de sincronização labial.
O app foi desenvolvido por uma startup de Xangai, era muito popular entre adolescentes americanos.
Isso fez com que o CEO da Meta empreendesse esforços muito sutis entre 2015 e 2016 para ganhar a simpatia do governo chinês, enquanto tentava comprar a Startup chinesa na surdina.
Zuck indicou livros de autores chineses em seu perfil no Facebook e até aprendeu mandarim para usar durante uma palestra numa universidade conceituada de Pequim.
Não se sabe o porquê, mas após uma série de conversas entre Zuckerberg e os fundadores do app, realizadas entre os meses de agosto e novembro de 2016, o negócio não se concretizou.
Cerca de 14 meses depois, o Musical.ly foi comprado pela ByteDance que fundiu o app ao atual Tik Tok.
Advinha o que o tio Zuck fez?
Novamente copiou a função principal do concorrente e trouxe para o instagram sob o formato do Reels, empurrando o uso do recurso pelos usuários com a promessa de maior alcance orgânico na plataforma.
Deu certo?
Não como ele esperava.
Uma pesquisa feita pelo Instituto americano Pew Research Center, revelou que 67% dos adolescentes americanos entre 13 e 17 anos disseram já usar o TikTok e 16% deles entram no app todos os dias.
Por outro lado, o número de jovens que usa o Facebook todos os dias, caiu de 71% para 36%.
Fato é que a ByteDance está avaliada em US$140 bilhões ocupando a primeira posição no ranking das startups mais valiosas do mundo.
Em contrapartida, a Meta que já chegou a valer US$1 trilhão, perdeu só em 2022 mais de US$680 bilhões e hoje vale pouco mais de US$ 300 bilhões.
A conclusão que a gente tira analisando os esforços que o CEO da Meta fez lá em 2016 para comprar a Musical.ly, e os ataques que Zuckerberg faz ao Tik Tok hoje, inclusive usando de vieses políticos – ao afirmar que o app chinês viola a liberdade de expressão nos EUA – mostra que a preferência do público mais jovem pelo app teve sim um dedinho de participação na maior crise já vivida pela empresa desde a sua fundação.
O segundo golpe no metaverso de Zuckerberg
O segundo golpe sofrido pela Meta, veio da empresa mais valiosa do mundo: a Apple.
Em abril de 2021, a Apple anunciou uma atualização no sistema operacional dos iphones que quebrou as pernas do tio Zuck.
O novo IOS 14.5 trouxe alterações significativas nas políticas de privacidade e de compartilhamento de dados.
Para ficar fácil de entender, essa mudança deu ao usuário o poder de autorizar ou não o rastreamento de dados e atividades por apps de terceiros em seus aparelhos.
Fato é que isso impactou diretamente as empresas que usavam esse tipo de informação para anunciar para públicos personalizados, afetando consequentemente a maior fonte de receita do Facebook:
A publicidade paga.
Para você ter uma ideia, desde que foram divulgadas as mudanças no IOS 14, o próprio Mark Zuckerberg preveu uma perda de US$10 bilhões com a política de anúncios da Apple.
Agora, pensa o seguinte.
Será que o lançamento do novo IOS 14 em 2020 não foi uma estratégia comercial da Apple para ficar bem na fita com os usuários, enquanto o Facebook se recuperava dos escândalos sobre vazamento de dados em 2019?
A obsessão de Mark Zuckerberg
O terceiro elemento que colocou a Meta em maus lençóis, por incrível que pareça, veio da mente do próprio Mark Zuckerberg.
Em outubro de 2021 a holding passou a se chamar Meta e o executivo anunciou que essa mudança também indicava a nova direção que a empresa seguiria dali em diante.
Entusiasmado com a ideia de criar um universo virtual, Tio Zuck inflou o time com milhares de contratados e pautou todo o futuro da sua companhia no desenvolvimento de um universo virtual sem qualquer garantia de retorno concreto.
É claro que essa aposta arriscada assustou os investidores.
Algo que ficou evidente em uma carta aberta publicada no Medium por Brad Gerstner, CEO da Altimer Capital – uma das grandes investidoras da Meta – ao afirmar que:
“Um investimento de mais de US$ 100 bilhões em um futuro incerto é assustador até para o padrão do Vale do Silício.”
Mas os investidores da Meta não são os únicos descontentes com a obsessão de Zuckerberg pelo Metaverso.
Após o anúncio das 11 mil demissões, os próprios funcionários da Meta desabafaram no fórum anônimo Blind:
“O metaverso será nossa morte lenta” – diz um desenvolvedor sênior de software.
“Mark Zuckerberg matará sozinho uma empresa com o metaverso.”
Já uma cientista de dados na empresa, afirma que “a Meta está precisando de demissões no nível executivo” e que “a liderança confunde movimento com progresso”.
Outro usuário, acrescenta: “Pensei que fosse uma empresa orientada por dados, mas na verdade é o instinto e as emoções de um homem”.
Sobre a veracidade das postagens e avaliações feitas pelos funcionários no fórum anônimo, Rick Chen – chefe de relações públicas da Blind – afirma que:
“Quase todas as avaliações publicadas foram escritas por funcionários atuais das respectivas empresas no momento da redação.
E ainda destaca que:
“As pessoas não podem acessar a Blind depois de serem demitidas ou renunciarem.”
Fato é que a viabilidade do projeto idealizado por Zuckerberg foi questionada até pelo vice-presidente responsável pelo Metaverso, Vishal Shah, ao notar que a adesão ao app de realidade virtual da Meta – Horizon Worlds – é baixa até mesmo entre os próprios funcionários da companhia.
Sobre isso, ele comenta:
“Não passamos tanto tempo no Horizon e nossos painéis de dogfooding mostram isso claramente. Por quê? Por que não amamos tanto o produto que construímos que o usamos o tempo todo? A verdade simples é que, se não o amamos, como podemos esperar que nossos usuários o amem?”
A verdade é que todo esse descontentamento vem do fato de que faz mais de um ano que o Facebook virou Meta e, até hoje, a maioria das pessoas não sabe ainda o que é metaverso ou para que isso serve.
Lucros da Meta caem pela primeira vez em 10 anos
Aliada ao “fracasso funcional” do metaverso, a Meta sofreu a primeira queda de lucro em 10 anos.
Para você ter uma ideia, no segundo trimestre de 2022, o lucro da Meta foi de US$ 6,69 bilhões, o que representou uma queda de 36% comparado aos US$ 10,39 bilhões obtidos no período anterior.
Por outro lado, a divisão Facebook Reality Labs (FRL), encarregada das operações da Meta em realidade aumentada e virtual, teve um prejuízo de US$ 2,81 bilhões no segundo trimestre de 2022 – números melhores que o último trimestre de 2021, onde o prejuízo foi de 3,3 bilhões.
É claro que, além do metaverso, a recessão econômica provocada pela pandemia e a guerra na Ucrânia, as mudanças no IOS 14 e o crescimento do TikTok influenciaram esses números.
A questão é que apesar desse cenário, Zuckerberg pretende seguir e aumentar os investimentos no metaverso nos próximos anos, já que, segundo ele, trata-se de um projeto caro, que levará anos para se concretizar mas que trará resultados para a empresa a longo prazo.
O erro de Mark Zuckerberg
Fazendo uma análise de tudo, fica claro que o maior erro de Mark Zuckerberg foi parar de ouvir o mercado, incluindo os seus próprios clientes.
Veja bem, produtos são criados para atender necessidades reais das pessoas.
Quando elas não sabem que precisam de algo, o trabalho do marketing e do Copywriting é provocar ou trazer à luz essa necessidade no público.
No caso do metaverso, além de ser uma aposta super arriscada e muito cara, o projeto nem sequer foi capaz de mostrar a sua utilidade para as massas.
Ou seja, Tio Zuck não conseguiu vender a ideia do produto, mas também não hesitou em investir bilhões de dólares para criar do zero um universo virtual inteiro sem nem ter certeza de que as pessoas querem e vão aderir.
Quando a gente pensa nisso, consegue entender, por exemplo, a crítica de Brad Gerstner – um investidor antigo da Meta – à forma como Mark e outros diretores têm conduzido a companhia.
Para ele, “a Meta entrou em uma terra de excessos — com gente demais, ideias demais e urgência de menos”.
Apesar das pedradas, o investidor também recorda o potencial da companhia de Zuckerberg em liderar tecnologias fundamentais do futuro que ajudará tanto no desenvolvimento de novos produtos quanto no crescimento da Meta.
Basicamente, Brad dá 3 conselhos à Mark:
- Direcionar os investimentos da Meta para o desenvolvimento de Inteligência Artificial e 3D imersivo;
- Reduzir o quadro de funcionários da Meta em 20%;
- Limitar os investimentos no Metaverso em US$5 bilhões por ano – e não US$25-30 bilhões como é hoje.
Para Brad, essa é a receita que a Meta deve usar para recuperar a confiança dos investidores e voltar a crescer com consistência nos próximos anos.
Mas o que você acha?
Será que o metaverso é de fato algo funcional e não passa de um delírio do empresário?
Ou
Zuckerberg é um gênio incompreendido?
Conta para a gente nos comentários aqui embaixo.